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  • Foto do escritorGabriela Faria

Luz para ve-la

Atualizado: 10 de abr. de 2019

Um objeto sagrado que traz clareza à alma


É tão engraçado como a vida anuncia o que a gente precisa. Anuncia intencionalmente, intuitivamente. É como se percorrêssemos o nosso caminho com a voracidade instintiva de um introspecto sedento de lugar.

Sim.

Você já percebeu como é desesperador perceber-se sem lugar? Numa festa, andando pela rua, em qualquer situação. E, ao mesmo tempo, ah! como é bom. É bom sentir o calorzinho do encaixe.

Eu senti.

Sinto intensamente. Num peso que me proporciona a sensação de fadiga, como se a aceleração da gravidade avançasse sobre meu corpo numa medida muito maior do que 10m/s². Mas não se assustem, é reconfortante.

Me encontrei na Umbanda, meu povo! Num terreiro. No toque do tambor, firmando uma vela, de pé no chão. Firmando uma vela, em oração. Cantando um ponto. Firmando uma vela. Uma vela. Várias velas. Já parou para pensar na importância de uma vela?

Durante uma gira de Umbanda, a caridade é pilar principal. Entidades iluminadas e evoluídas se fazem presentes para agir em prol de quem necessita de amparo, físico e espiritual. Foi numa dessas que descobri o poder da vela.

Eu estava sentada em um banco, de olhos fechados e ouvindo as pesadas respirações ao meu redor. Ao meu lado havia um bebê no colo de sua avó. Filho de Exu no plano de Deus e de médiuns de incorporação na realidade terrestre, o pequeno já era ativo àquela situação: sensitivo e envolvido em místico contexto, ele chorava. Chorava angustiadamente, como se pedisse ajuda. Talvez não para si, mas para outra alma necessitada. Miguel sentia aflição e a dirigente do terreiro orientava. "Crianças nesta idade veem muitas coisas. Alguém está perturbando o Miguelzinho, firmem o pensamento".

Em meio a energias boas e ruins, me deixei envolver pelo desespero. Na minha cabeça ecoava o pedido da babá Cida, para que mantivéssemos o pensamento firme em Oxalá, nosso Jesus. Por insegurança, pouco mantive minha concentração. A ordem pairava em minha mente, mas logo se ia. Eu não me mantive focada e positiva.

Iniciou-se então o ritual de atendimento, em que as entidades incorporadas se ocupavam em ajudar quem ali estava. Esperei ansiosamente pela minha vez rezando de modo pouco significativo, já que minha atenção sempre era desviada. Quanto mais o tempo passava, mais me percebia num limbo de sensações horríveis e aspirantes ao desespero.

Quando chegou a minha vez, me dirigi ao presidente da Casa, o senhor Maurício. Lembro-me de perceber que ele estava tenso. Talvez porque sentiu alguma movimentação de baixo astral ou por estar preocupado em administrar corretamente o tempo da sessão de atendimentos. Apesar disso, me orientou gentilmente para que eu conversasse com o Exu Come Fogo.

Saudei e me apresentei inquieta. Eu estava nervosa, chorando compulsivamente e não conseguia explicar o motivo. Logo, ele se apressou em me tranquilizar. “Sua moça, você não precisa permanecer neste estado. Este desespero todo deixa claro um desequilíbrio sem necessidade”.

Foi então que ele acendeu uma vela. Disse para que eu olhasse para ela fixamente. Pediu para que eu refletisse o que ela poderia significar em momentos de aflição. Entendi o recado. Imediatamente me senti invadida pela paz, que me trouxe calma.

A vela é o símbolo de um dos elementos mais preciosos que a espiritualidade nos brinda: a luz! Junto a ela, reforça-se a fé. A luz é capaz de guiar de maneira nítida a sabedoria de pensamentos, tornando caminhos aparentemente difíceis em algo compreensível. Oferece lucidez não por acaso, a palavra deriva-se etimologicamente do latim "lux". A luz orienta e oferta, acima de tudo, a certeza de que uma força superior sempre acalentará.

Como de costume, me foi ensinada mais uma lição. Despedi-me grata e refleti sobre meu caminho até ali. A luz me conduziu àquele momento, mesmo que eu me julgasse cética demais, cega para ver o quanto era necessário estar no terreiro. Elevei meus pensamentos e a gratidão me submergiu mais uma vez. Tive a certeza então que tudo ficaria bem. E quando tudo parecesse opaco, era só acender uma vela e confiar em Oxalá.



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